Start-up no kibbutz, a nova xeración





Por Daniela Kresch
Rua Judaica do Brasil

Quando se pensa que os kibutzim já passaram por todas as encarnações possíveis desde o primeiro, Degania (criado em 1909), a realidade surpreende. Um kibutz chamado Revivim (no Neguev) inaugurou, há poucos meses, uma incubadora de start-ups. Quer dizer: de vilarejos comunitários agrícolas com base socialista, os kibutzim abraçam cada vez mais a modernidade econômica israelense – e mundial.

A incubadora “Hamagderá” funciona assim: start-upistas com ideias na cabeça, mas ainda sem produtos para mostrar, são convidados a passar três meses no kibutz sem pagar nada. Recebem casa, comida, roupa lavada e um ambiente profissional para desenvolver suas ideias embrionárias. Quer dizer: não só não precisam pagar aluguel, comprar comida e lavar roupa, como têm à disposição um local de trabalho com toda a infraestrutura profissional onde recebem orientação, cursos e palestras de investidores e start-upistas que deram certo.
Para o kibutz, a incubadora é uma maneira de desenvolver o vilarejo econômica e socialmente. No lado econômico, os start-upistas aceitam pagar ao kibutz, caso seus projetos deem certo (quer dizer, o kibutz recebe uma porcentagem do eventual sucesso de seus pupilos). Fora isso, há um clima de modernização, de novas ideias, que se espalha pelos moradores.

Socialmente, imagino que a esperança é a de que alguns dos start-upistas decidam, quem sabe, ficar no kibutz e criar suas famílias por lá. Isso é importantíssimo para muitos kibutzim, que precisam de renovação social em suas pequenas comunidades. Revivim fica no Sul de Israel, na periferia, não no Centro do país. Não é um polo de atração de jovens profissionais. Com a criação da incubadora, a ideia é justamente atrair “jovens” e “profissionais”.
Há uns 20 anos, quando passei uma temporada em Israel antes de me estabelecer por aqui definitivamente, experimentei algo parecido. Mas não era com start-ups (nem existiam direito), mas sim com estudantes da Universidade Hebraica de Jerusalém. Um grupo deles (eu incluída) foi selecionado para passar as férias colhendo maçãs num kibutz no extremo Norte de Israel: o Kibutz Baram, que fica na fronteira com o Líbano, no que os israelenses chamam de Alta Galileia.

Por cerca de dois meses, recebi casa, comida e roupa lavada para ajudar na colheita de maçã do kibutz (trabalho pesado, das 5,00 h da manhã até por volta de 13,00 h da tarde, se me lembro bem). Éramos pagos por isso. Mas havia, além da moradia gratuita e do pagamento, outras vantagens: um curso sobre o Movimento Kibutziano e, às tardes, piscina liberada. A experiência em grupo também era um plus: duas dezenas de jovens trabalhando, mas também se divertindo com encontros sociais no pub local.


Os moradores de Baram não escondiam que, além da ajuda na colheita, o objetivo da iniciativa era levar gente nova para lá. Pelo menos por dois meses, mas, se desse, para sempre. E, realmente, diversos participantes do programa decidiram ficar no kibutz depois da experiência. E por bons motivos: era um kibutz incrível, tranquilo e ainda bastante comunitário. Os moradores eram simpáticos e ávidos por receber novas pessoas. Hoje, penso se minha vida não teria sido mais tranquila e rica (em termos de valores) por lá, sem a luta diária pela sobrevivência na selva da cidade grande.
Mas, voltando à incubadora do Kibutz Revivim, acredito que esse tipo de iniciativa pode realmente fazer parte da próxima encarnação dos kibutzim, que já começou com a construção de novas casas em muitos deles, o recebimento de muitas famílias jovens para as comunidades e a preferência por fábricas modernas em detrimento do sonho estritamente agrícola. A privatização e o fim da vida comunitária em muitos kibutzim já é uma realidade. O passado idealista – com valores que ainda são apreciados em Israel e no mundo – ficou para trás. Mas o futuro promete.

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