Sobre "intifadas culturais" e liberdade de expresión



Por Joao Guisan Seixas*

Curioso acto pela "liberdade de expressão" organizado contra a investigação de um crime atroz contra a liberdade de expressão, como foi o assassínio de Juliano Mer-Khamis, a quem, não sei por quê, lhe tiram o apelido árabe (pois era filho de pai árabe e mãe judia) e a a sua dupla adscrição palestiniano-israelita. Ele não dizia que era 50% palestiniano e 50% israelita, mas 100% palestiniano e 100% israelita. Tal e como se refere no texto, parece que tivesse sido o exército israelita que o assassinou às portas do teatro. E não, foram balas palestinianas que o mataram pelo delito de promover uma solução pacífica do conflito e a aproximação dos dois povos através da cultura. Tendo a polícia palestiniana (depois de tentar culpabilizar um delinquente comum que foi ilibado por provas de ADN) renunciado a investigar o caso, a justiça israelita procedeu à detenção, que não sequestro, quer de Nabil Al Ree quer de Zakaria Zubeidi (antigo membro das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, que Juliano Mer-Khamis tinha acolhido após a sua teórica renúncia à luta armada), porque sempre se suspeitou que o assassínio tinha sido cometido por pessoas próximas dele.

Ambos estão detidos, não sequestrados, ao dispor de um tribunal e com assistência de advogados. Muito mais do que teve Gilad Shalit. Israel é um Estado de Direito. Se houver provas para condená-los, serão condenados, e caso contrário serão libertados. Mas sem dúvida Israel tem todo o direito do mundo (segundo, entre outras coisas, os acordos de Oslo que assinou a ANP) a fazer o que fez. O Freedom Theatre fora fundado já pela mãe dele, filha de combatente, mãe de combatente e ela própria combatente do que do lado palestiniano se denomina "sionismo genocida". Se o exército israelita tivesse querido acabar com esse projecto podia tê-lo feito há muito. Os únicos que esse projecto parecia incomodar eram os radicais palestinianos. Qualquer palestiniano que for detido por causa dessa morte vai ser sempre uma vítima do "sionismo genocida". Parece que os organizadores deste acto o que querem é que esse crime fique impune.

*Actor, director, dramaturgo galego é socio da Asociación Galega de Amizade con Israel

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