O boicote
a Israel é uma arma indigna
Começa a fazer-se falar dela, na França, uma campanha que consiste em
promover o embargo a Israel, tanto na ordem económica, como na dos intercâmbios
universitários e culturais. Os seus promotores, agrupados num colectivo
intitulado “Boicote, Desinvestimento, Sanções”, não se preocupam com questões
de pormenor. À vista do seu manifesto, tudo que seja israelita é culpado, o que
dá a impressão de que é a palavra mesma “Israel” que se deseja, de facto,
riscar das mentes e dos mapas.
A ilegalidade o intento não há dúvida de que justiça francesa não demorará
a confirmar. Mas dificilmente a justiça poderá sancionar o que é essencial
neste caso. É por isso que nós, associações, cidadãos de toda a parte, actores
da vida do nosso país, todos igualmente empenhados na paz no Oriente Médio e,
portanto, na criação de um Estado palestiniano viável e democrático ao lado de
Israel, somos convictos de que os boicotadores se enganam de combate ao tomarem
o partido da censura antes que o da paz, o da separação antes que o do possível
e necessário convívio – o do ódio, dito de vez, e não o da palavra e a vida
compartilhadas.
A possibilidade de criticar, mesmo vivamente, o governo israelita acerca da
sua política a respeito dos palestinianos, não é posta aqui em causa. Poucos
governos são tão severamente julgados (por alguns de nós, entenda-se). Mas a
crítica nada tem a ver com a rejeição, a denegação e, em último termo, com a
deslegitimação em fim. E nada pode autorizar a aplicar à democracia israelita
um género de tratamento que não é reservado hoje em dia a nenhuma outra nação
do mundo, embora seja uma abominável ditadura.
E ainda mais tomando em consideração que a globalidade da rejeição e a sua
brutalidade acabam por arrastar consigo as forças que, em Israel, trabalham dia
a dia por uma aproximação com os palestinianos, de maneira que os partidários
do boicote são, também, os sabotadores e torpeadores da esperança.
A paz não se fará sem os palestinianos. Mas não se fará, também não, sem os
israelitas. E ainda menos sem os intelectuais e os homens e mulheres de cultura
que, qualquer que seja o seu país de origem e o seu partido político, trabalham
por aproximar os povos. Ceder ao chamado do boicote, torna impossíveis as
trocas, inflige aos investigadores israelitas, por exemplo, ou aos escritores,
não se sabe bem que classe de punição colectiva. É abandonar toda a perspectiva
de solução política ao conflito, e significa que a negociação já não está mais
no campo do possível.
Nós não aceitamos esta assunção do fracasso. Pensamos que o nosso papel é o
de propor um caminho de diálogo. É por isso que nós, assinantes, somos
resolutamente contra o boicote a Israel e pela paz – e precisamente contra o
boicote porque somos pela paz.
François Hollande, deputado (PS) por Corrèze ;
Yvan Attal, actor ;
Pierre Arditi,
actor ;
Georges Bensoussan, historiador ;
Michel Boujenah, actor ;
Patrick Bruel,
actor e cantor;
Pascal Bruckner, ensaísta;
David Chemla,
secretário geral de JCALL, ;
Bertrand Delanoë, presidente da Câmara Municipal de Paris
;
Frédéric Encel, geopolitólogo ;
Alain Finkielkraut, filósofo ;
Patrick Klugman, advogado ;
Georges Kiejman, advogado ;
Anne Hidalgo,
vice-presidente (PS) da Câmara Municipal de Paris ;
Bernard-Henri Lévy, filósofo ;
Mohamed Sifaoui, ensaísta ;
Yann Moix,
escritor ;
Bernard Murat,
encenador ;
Jean-Marie Le Guen, deputado (PS) ;
Pierre Lescure, encenador ;
Serge Moati,
jornalista ;
Daniel Racheline, vice-presidente de JCALL ;
Arielle Schwab, presidente da UEJF ;
Dominique Sopo, presidente de SOS-Racisme ;
Gérard Unger, presidente de JCALL ;
Manuel Valls,
deputado (PS) - presidente da Câmara Municipal de Evry ;
Michel Zaoui,
advogado.
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