Por Moshe Arens
Haaretz
Desta vez não vai ser um ‘déjà vu’. As negociações entre Benjamin Netanyahu e Mahmoud Abbas, promovidas e dirigidas por Barack Obama, não serão nada parecidas com as negociações que aconteceram durante os últimos dezesseis anos, sucessivamente, entre Yitzhak Rabin, Netanyahu e Ehud Barak, do lado israelense, e Yasser Arafat do outro. Arafat tinha o apoio de quase todos os palestinos, e tinha todo o direito de representá-los.Mas não menos importante, Arafat tinha o poder para colocar em prática os acordos que ele fez. Havia apenas a questão de se saber se ele realmente queria e estava tentando chegar a um acordo de paz com Israel. Até agora, graças às concessões generosamente oferecidas por Barak em Camp David há 10 anos, quando essas mesmas concessões foram rejeitadas por Arafat, sabemos que embora ele tivesse o poder de chegar a um acordo de paz com Israel, não era esse o seu objetivo.
Com Mahmoud Abbas é uma história completamente diferente. Ele não tem o apoio de todos os palestinos, nem mesmo da maioria deles. O Hamas declara que ele não tem o direito de representar os palestinos nas próximas negociações. Mesmo na Cisjordânia o nível de apoio que ele goza entre os palestinos é questionável. Mas o mais importante, ele não tem a autoridade para colocar em prática qualquer acordo que poderia chegar com Netanyahu. Ele está plenamente consciente disso, e essa é provavelmente a explicação para a sua relutância em entrar nas negociações, para as quais está indo arrastado, chutando e gritando a cada centímetro do caminho, pelo presidente dos Estados Unidos.Os palestinos sabem disso. Os israelenses, que conhecem bem o cenário palestino, compreendem isso. É difícil acreditar que os americanos não saibam disso. Talvez Obama pense que o dinheiro vai ser a resposta - que o apoio financeiro suficiente para Abbas iria eventualmente fornecer-lhe a legitimidade e autoridade que tanto lhe falta.
Mas o dinheiro já enche os bolsos dos palestinos que estão no território de Abbas, mas não isso não substitui o apoio que ele não tem entre o seu povo. Arafat poderia ter feito a paz com Israel, mas não quis. Abbas pode ou não querer fazer a paz com Israel, mas ele não pode.Então, o que está acontecendo aqui? Esta é uma versão do oriente médio da peça "As Roupas Novas do Imperador"? Até onde e quando vão prosseguir as negociações antes que alguém declare que "o imperador está nu!"? Na verdade, parece bastante claro que antes que isso aconteça, as negociações vão se transformar em um jogo de colocar a culpa no outro. Ninguém vai querer aceitar a culpa pelo fracasso das conversações. Todo mundo vai tentar colocar a culpa no prato do outro. E isso não será simplesmente um jogo infantil. Ser considerado culpado pelo fracasso de negociações tão amplamente anunciadas pode causar graves consequências políticas.Caso Obama seja considerado o culpado, isso seria um mais um golpe quando a sua popularidade está em declínio, e seria coroar uma série de decisões erradas vis-à-vis o Oriente Médio com negociações que ele de fato tem forçado para participarem, e que poderá resultar em mais raiva e frustração, e considerado como um grave erro de julgamento.Abbas foi aconselhado por muitos palestinos para não participar dessas negociações. A generosidade americana e pressão norte-americana que o levou à mesa de negociações fizeram-lhe parecer um fantoche americano. E uma falha na mesma mesa de negociação não vai melhorar a opinião sobre ele, aos olhos de seu povo.
Quanto a Netanyahu, os seus críticos estão apenas esperando para o atacarem e acusarem de nunca ter sido sincero com suas palavras sobre como alcançar um acordo de paz com os palestinos. Sua coalizão poderá ficar um pouco abalada. E todos aqueles ao redor do mundo que se dedicam a atacar violentamente Israel encontrarão num fracasso das negociações muito combustível para seus ataques.Se assegurar de não ficar com a culpa pelo fracasso e saindo na frente no jogo de apontar o culpado poderá ser o principal objetivo dos participantes das negociações. Parece que, além dos preparativos para as negociações que estão atualmente em curso em Jerusalém, uma reflexão séria deve ser dada a tática a ser empregada no "jogo da culpa" que, sem dúvida, irá acompanhar cada passo das negociações. Enquanto Netanyahu reúne sua equipe para as conversações de Washington, ele poderia muito bem convidar o Professor Robert Aumann, o especialista mais renomado em Israel em teoria dos jogos, para integrar a equipe.
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