OS NENOS DE SDEROT

Por Joao Guisan Seixas

É pena que a esquerda actual seja tão pouco dialéctica. Marx foi sem dúvida uma das maiores mentes da história da humanidade. Resulta triste verificar que de todo o pensamento dele mal ficaram alguns tópicos torpes e pobres, quando o seu mais importante contributo, a dialéctica aplicada à história, parece ter desaparecido (se alguma vez tivesse estado!) da mente dos seus pretensos sucessores. Claro que, nestes dias em que Hamas convoca para o boicote a todos os produtos judeus, talvez a esquerda submissa o tenha interpretado como um convite para o abandono da dialéctica daquele judeu alemão. A dialéctica devia ter-lhes ensinado a nom ser lineares nem simplicistas. A dialéctica é a ciência, ou antes a arte, da contradiçom. Para nom converter isto num discurso académico, permita-se-me o explicar apenas com um exemplo. Um pequeno exemplo de aplicaçom de pensamento dialéctico a uma questom bem de actualidade: os nenos palestinianos mortos. Quanto mais vos entristecerdes polos nenos palestinianos mortos, mais nenos palestinianos mortos vai haver. Se vos entristece de verdade a morte dos nenos palestinianos, nom vos entristecer mais pola morte dos nenos palestinianos. Se nom queredes realmente que haja mais nenos palestinianos mortos, deixai de vos entristecer já pola morte dos nenos palestinianos.
Há pouco que visitei Sderot, a cidade israelita mais vezes atacada por Hamas. Todos os 50 metros havia um refúgio anti-mísseis, ao pé do qual os nenos de Sderot jogavam futebol. Comenta-se nestes dias, de forma mui demagógica e pouco dialéctica, a diferença ente o número de baixas civis do lado palestiniano e israelita, como se os mortos numa guerra pudessem dar ou tirar a razom nela. Mas, enquanto nos meses de trégua Hamas dedicou-se a perfurar o solo de Gaza para abrir túneis para o contrabando de armas e escavar silos para os seus mísseis, em todos estes anos nom tem construído nem um só refúgio anti-aéreo para a sua populaçom. Uma dirigente socialista, e segunda mulher da história a ser Primeiro Ministro, Golda Meir, aplicou assim a dialéctica: “O dia em que o amor dos árabes aos seus próprios filhos for mais forte do que o ódio aos seus inimigos, terá acabado o conflito árabe-israelita”.

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