Por Amir Sagie
Conselheiro da Embaixada de Israel en Lisboa
Infelizmente, quando um alto funcionário ou diplomata iraniano tenta defender o seu país, opta por disseminar "factos" fabricados e criar a noção de que o "coitado" Irão é apenas uma vítima inocente de uma campanha injusta levada a cabo contra o país e contra o que consideram ser os seus direitos legítimos. Talvez tenha chegado a altura de clarificar as coisas e expô-las exactamente como são. Há já cerca de duas décadas que o Irão tem desenvolvido várias actividades nucleares clandestinas que passaram a ser conhecidas em 2002 e, desde então, a comunidade internacional tem reforçado a sua pressão diplomática e económica para levar Teerão a suspender o enriquecimento de urânio. Este empenho global deriva do entendimento de que a continuação do programa nuclear iraniano ameaça a segurança global, a estabilidade regional bem como a integridade do Tratado de Não Proliferação e de outros esforços de desarmamento em geral. Há um facto importante que devemos reter em mente - nos últimos dois anos, três resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas (1696, 1737, 1747) incluindo várias exigências e sanções, foram adoptadas e decretadas contra o Irão. No entanto, Teerão continua a desafiar todas essas exigências e não suspende as suas actividades nucleares. Não devemos esquecer que Teerão está disposta a usar quase todos os meios ao seu alcance - como divulgar factos falsos e fabricados na sua imprensa ou nos discursos dos seus líderes - por forma a manter a percepção de legitimidade internacional, entendida como a forma de suster a crescente pressão internacional. Mas ao mesmo tempo o Irão actua fora dos limites dessa mesma legitimidade ao continuar a desafiar as exigências internacionais para que suspenda as suas actividades nucleares. A vergonhosa participação do Presidente iraniano na última assembleia geral da ONU, em Nova Iorque, esteve plena de referências anti-semitas e de mensagens de ódio e constitui um bom exemplo de como o regime iraniano tem feito troça dos valores e da moral da comunidade internacional, não podendo esconder o facto de que Teerão continua a ser o centro mundial da negação do Holocausto. Assim, não podemos continuar a ignorar a perturbadora realidade de que hoje - mais de 60 anos depois do Holocausto - ouvimos neste mesmo pódio das Nações Unidas o líder iraniano - um Estado membro da ONU - apelando à destruição de um outro Estado membro e negando as realidades históricas do Holocausto. No hall das Nações Unidas, foi inscrito por todos os Estados membros: "Nunca mais." Assim, temos o dever de não condenar apenas essas declarações, mas de agir rápida e energicamente contra qualquer Estado membro cujos líderes profiram tais desprezíveis e perigosas palavras. Não devemos nunca esquecer que o Holocausto nazi não começou nas câmaras de gás e no assassínio em massa de judeus. Essa foi a forma como terminou. O Holocausto nazi começou com as palavras perigosas de um homem.Deixemos que sejam os leitores a julgar por eles próprios se o Irão é uma "vítima inocente" ou o país que desde a revolução islâmica, ocorrida há 30 anos, passou a ser um dos maiores apoiantes e financiadores do terrorismo internacional e regional disseminando a sua ideologia radical e extremista por todo o mundo árabe e muçulmano. Será um país erradamente perseguido pela comunidade internacional ou talvez seja uma iminente ameaça regional que continua a desenvolver todos os esforços para adquirir capacidade nuclear militar, o desenvolvimento de mísseis de longo alcance e o apoio a elementos extremistas e radicais pelo Médio Oriente como: o Hezbollah, o Hamas a Jihad Islâmica, etc. Enquanto tenta desestabilizar toda a região e bloquear qualquer solução pacífica ameaçando gravemente a segurança regional e global.Israel continua a defender uma aplicação pacífica de todos os pedidos internacionais de suspensão do nuclear iraniano e é claro que não tem nada contra o povo iraniano. No entanto, acreditamos que a insistência do Irão em desafiar a comunidade internacional requer uma voz mais firme em sua oposição.
Publicado no xornal portugués Diário de Notícias - 29.11.08
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