A POSICIÓN DA ESQUERDA ARXENTINA EN 1948


Por Daniel Silber

Em 29 de novembro de 1947, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou a Resolução 181 que dividia o território da Palestina, sob Mandato britânico, criando dois Estados: um árabe e outro, judeu. O plano original havia sido obra de Andrei Gromiko, jovem e já experiente embaixador da União Soviética na ONU. Tanto o periódico Orientación como o diário La Hora, vinculados ao Partido Comunista da Argentina, acompanharam os debates com bastante precisão e atenção. Em lugares destacados de diferentes edições reflete-se a adesão do PCA à política exterior da URSS, cuja postura é dar, de forma simultânea, uma resposta bastante integral à complexa situação. Por um lado, encontrava-se uma saída às demandas nacionais do povo judeu massacrado pelos nazistas, e por outro, tratava-se de debilitar as posições dos imperialismos inglês e francês, que controlavam grande parte da região ou influenciavam diretamente as reacionárias monarquias locais. Os artigos manifestam, ainda, uma nítida e definida posição classista, já que destacam sua oposição à aliança existente entre os administradores coloniais ingleses e os grandes proprietários de terras de origem árabe na região, cujo objetivo era preservar os seus privilégios − econômicos, estratégicos e geopolíticos. A conjunção de todos esses elementos (classismo, internacionalismo, antiimperialismo, pró-sovietismo) fez com que, através de seus órgãos de imprensa, o PCA expressasse sua profunda simpatia pela criação do Estado de Israel e apoiasse decididamente a determinação da ONU nesse sentido. Para a coletividade judaica argentina, a criação do Estado de Israel foi muito significativa. Se para o sionismo o Estado deveria ser exclusivamente judeu, para o progressismo deveria ser um Estado nacional, com árabes e judeus compartilhando responsabilidades. Os acontecimentos posteriores impediram a materialização desse conceito. Assim, o progressismo aceitou a alternativa proposta na ONU de partilha da Palestina em dois Estados, um árabe e outro, judeu, nos territórios administrados pelo Mandato britânico. A independência cobriu de júbilo toda a coletividade, com grandes festejos e uma alegria enorme nos bairros judeus de Buenos Aires (Once, Villa Crespo). Com a idéia de Israel como pólo de progresso social, paz e desenvolvimento para a região, o progressismo criou a Campanha Popular de Ajuda a Israel. Seu objetivo: reunir dinheiro para colaborar na efetivação do Estado. Uma atividade foi coletar fundos para construir um bairro de casas populares em Tel Aviv; outra, desenvolver iniciativas em prol de mulheres e imigrantes e para fazer frente a emergências.

Em junho de 1949, um documento do setor progressista assinala que “o Estado de Israel [...] é questão de todo o povo judeu. Saudamos fervorosamente os combatentes e construtores de uma vida estatal livre e democrática em Israel”. Em 1952, um folheto em castelhano e iídish com fotografias e mais de cem páginas mostra o destino da soma coletada, descreve as características das obras e o grau de realização, e relata os muitos obstáculos político-burocráticos enfrentados junto à comunidade local e às autoridades israelenses. Estes são pequenos exemplos do compromisso ativo e militante assumido pelo progressismo judaico argentino com a criação de Israel. Mais do que palavras, foram fatos.

Tirado do boletín bimensual de ASA

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