ISLAMISMO E POS-MARXISMO.


ISLAMISMO E PÓS-MARXISMO.

Por Tiago Barbosa
http://kontratempos.blogspot.com/

Tenho escrito sobre as crescentes relações de caucionamento ideológico existentes entre o islamismo radical e algumas correntes da esquerda ocidental pós-marxista. Afirmando uma luta militar e ideológica anti-imperialista, anti-americana (conceitos práticos do anti-capitalismo) e anti-sionista (conceito prático do anti-semitismo), a jihad islâmica possui uma imensa condescendência em largas franjas da esquerda com programa anti-capitalista.A razão é simples: a esquerda secular militante observa o integrismo como mais uma tensão do sistema-mundo detentora de elevado potencial estratégico, na linha de outros movimentos, processos e/ou actores colectivos que conseguiram impor rupturas à ordem dominante em diferentes momentos do século XX. Uma fase outra num processo histórico determinista em que a democracia tem adjectivos e é um projecto de classe. No essencial, mesmo quando o enfoque é outro, a raiz dos «clássicos» aponta para aí. O resto do jargão -- as contradições da pós-modernidade, o pós-colonialismo, etc. -- vai alimentando tão só uma disputa entre correntes teóricas num mesmo campo, por vezes dinamizado nas academias que têm os seus «intelectuais públicos».Esta associação entre fundamentalismo islâmico e esquerda anti-capitalista é para mim tão óbvia quanto repulsiva, sendo cada vez mais indisfarçável o tabuleiro de alianças que vai ganhando corpo na geopolítica actual. Fui acusado de muitas coisas quando escrevi sobre esta realidade e o novo anti-semitismo de esquerda durante a guerra Israel-Hezbollah; percebi, enfim, como o terreno teórico está extensamente minado e é difícil de reconceptualizar. Importa por isso insistir no tema, debatê-lo, alargar os ângulos de análise. E recolher dados como estes:

"A RONDA":
Ahmadinejad visita bloco anti-Bush na América LatinaO Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, iniciou ontem uma ronda de quatro dias pela América Latina, com primeira paragem na Venezuela - onde visitará o Presidente Hugo Chávez, o mais fervoroso aliado de Teerão na região. Ahmadinejad pretende fortalecer laços com um bloco de governos de esquerda declaradamente anti-americanos. (...). Aliás, o chefe de Estado venezuelano - a quem Ahmadinejad se referiu como "irmão" e "campeão da luta contra o imperialismo", na anterior visita que fez à Venezuela, há quatro meses - tem-se destacado como empenhado defensor das ambições nucleares iranianas, fortemente objectadas pelos Estados Unidos e alvo de condenação no seio do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Ahmadinejad seguirá no domingo para a Nicarágua, tendo encontro marcado com o recém-empossado Presidente Daniel Ortega, antigo guerrilheiro marxista, e depois para o Equador, onde, na segunda-feira, assistirá à tomada de posse do recém-eleito Presidente Rafael Correa. No tour, está ainda agendado um encontro com o Presidente boliviano, Evo Morales, que, muito provavelmente, ocorrerá em território venezuelano.»

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