A CULPA DE ISRAEL.


A culpa de Israel.
Por Pilar Rahola

Acumulei notícias, críticas e análises indignadas antes de fazer este artigo. Não queria escrever com o automatismo que comporta o conhecimento preciso do problema, a motivação que o conflito me gera e, sobretudo, a convicção de que este é um tema satanizado, tratado com um maniqueísmo do qual nenhum outro tema sofre.Sobre Israel não se informa, faz-se propaganda, consolidam-se preconceitos e rompem-se com todos os códigos deontológicos que regulam outras noticias complexas. A rapidez com que, diante de um fato lastimável, sempre Israel é criminalizado, dá-nos a medida da desproporção e, sobretudo, informa da distorção do qual sobre o conflito.Vamos por partes. Certamente nestes dias não nos chegam boas notícias da área. Por causa do seqüestro de um soldado, e do assassinato de um colono, o exército israelense está exercendo uma pressão militar que submeteu a população palestina a uma situação altamente insustentável. Algumas das reportagens sobre o estresse de que sofrem as crianças e sobre o medo com que vive a população civil são pertinentes e, sem dúvida, certas. Ainda assim, há só uma face da noticia? Ajuda-se a solucionar o conflito abordando uma só faceta do problema? É moral, ético e profissional colocar o peso da culpa exclusivamente num dos povos, e elevar o outro à categoria de vítima universal? Como sou das que crêem que a verdade é um espelho quebrado — Rodoreda, in memoriam —, e que Israel tem muitos dos pedaços, acredito também estarmos mentindo deliberadamente ou inconscientemente e, que a mentira só ajuda a perpetuar a desgraça. Para dizer isso mais claro: muitos dos que crêem solidarizar-se com a Palestina, criminalizando Israel, a única coisa que conseguem é afastar a paz, queimar as pontes de saída e, sobretudo, alimentar o vitimalismo perverso dos setores mais fundamentalistas. A bondade palestina não só é uma falácia: é, sobretudo, uma armadilha mortal.Vamos à contingência atual, aproximando-nos com rigor e não com a sacola dos preconceitos bem cheia. Primeiro, participo da crítica a algumas das atuações do governo Olmert.Até onde posso entender a pressão social que está sofrendo em função do seqüestro do rapaz Ghilad Shalit, não creio que usar aviões sônicos noturnos para assustar a população sirva para nada mais que pura propaganda. E alguns atos de prepotência militar seriam perfeitamente evitáveis. Ainda assim, se esta fosse a denúncia jornalística, mas estivesse acompanhada de uma análise crítica do que fazem os palestinos, teria pouca coisa a acrescentar.O problema é que a notícia sempre chega com uma só face, e assim os palestinos parecem vítimas virgens de culpa e submetidos à loucura de uns malvados israelenses. Como se o Tzahal, um exército fundamentalmente formado por rapazes e moças universitários israelenses, fosse algo assim como uma brigada de sádicos dedicados a matar civis. Assim são narradas as noticias. A realidade, entretanto, é outra e tem dados mais precisos. Desde que Israel abandonou Gaza e realizou um dos gestos unilaterais a favor da paz mais sérios dos últimos tempos, a quantidade de mísseis Kassam (ontem em uma escola de Ashkelon) que caíram em território israelense têm sido centenas. E agora caem mais perto. Não há noite que não caiam mísseis, do mesmo jeito que não há dia em que as emissoras de televisão palestinas não alimentem o ódio contra os judeus e façam exaltações ao extermínio. A organização que governa a Palestina, o Hamas, é responsável por centenas de assassinatos, e longe de mudar de posição, continua alimentando um ódio em massa que só pode conduzir à fabricação de suicidas. Não há nenhum gesto, nem econômico, nem cultural, nem político, que prepare a Palestina para a paz; muito pelo contrário: todos os esforços dedicam-se a prepará-lo para a guerra eterna. Nesta situação de violência, que culminou com o assassinato do jovem de 18 anos Eliahu Asheri, e com o seqüestro do soldado de 19 anos, Israel tem direito, no mínimo, a sentir-se profundamente cansado. Há interlocutores palestinos para a paz? Ousaria dizer que Mahmoud Abbas o é, mas, quem lhe faz caso? O que fundamentalmente existe são interlocutores para a guerra. Frente a este panorama, não parece tão estranho que Israel mantenha abertas as negociações, mas ative as suas defesas militares. Por mais que na Europa entoemos melodias de boas intenções, são a eles a quem ameaçam e a quem matam. Podemos negar-lhes, com tanta alegria como o fazemos, o direito à defesa?
Artigo publicado no Diario Avui. Tradução: Szyja Lorber

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