Crueldade americana


Por Jacob Dolinger
O Globo - 25.08.2011
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Há 25 anos Jonathan Pollard, analista do serviço secreto da Marinha americana, transferiu ao governo de Israel informações sigilosas que revelavam preparativos de Saddam Hussein para construção de uma usina nuclear com finalidades bélicas. Esta revelação levou Israel a destruir a usina iraquiana de Uzirak. Na época, o Conselho de Segurança da ONU condenou Israel. Anos depois houve reconhecimento da propriedade da iniciativa israelense.

Hoje autoridades de direito internacional louvam a oportunidade escolhida -quando a usina ainda não representava perigo- ao invés de aguardar para destruir a quando estivesse concluída, o que causaria irradiação nuclear com grande número de vítimas. Em seu processo, Pollard azeitou um acordo proposto pêlo governo americano, no sentido de não seguir os trâmites normais de um processo sobre espionagem, que ocasionaria a revelação de segredos de Estado. Em troca de uma confissão, lhe foi prometido que não receberia pena severa.
O governo americano conseguiu o sigilo que queria, me as Pollard acabou condenado à prisão perpétua. Na época Washington afirmou que suas atividades haviam causado a morte de agentes da CIA nas mãos dos soviéticos. Anos depois, no julgamento do espião Aldrich Ames, alto agente da CIA que transferira importantes segredos a Moscou, ficou comprovado que fora ele (e não Pollard) o causador das vítimas americanas. Em 1983, Estados Unidos e Israel haviam assinado um Memorando descasco qual os americanos se comprometeram a revelar aos israelenses quaisquer preparativos militares de natureza química, biológica ou nuclear que os países árabes empreendessem, acordo esta descumprido por orientação do secretário de Defesa Caspar Weinberger. Pollard revelou informações cobertas por este memorando. Atualmente, Pollard sofre de severa doença cardíaca.
Todos os pedidos dirigidos a Washington por várias administrações israelenses para sua libertação foram ignorados.
O presidente Clinton se comprometeu em 1998 a libertá-lo, me as não cumpriu a promessa. Os subsequentes governos americanos igualmente recusaram todos os pedidos dos israelenses e do próprio Pollard por clemência.
Há dias, Morris Pollard, professor emérito de ciências biológicas da Universidade de Notre Dame, grande pesquisador de câncer, pai de Jonathan, faleceu aos 95 anos de idade. Jonathan, sua esposa, membros da família Pollard e o governo de Israel dirigiram veementes apelos a Washington para permitir que o filho prisioneiro assistisse as exéquias de seu ilustre pai.O governo americano, que se negara anteriormente a autorizar a visita de Jonathan a seu pai no hospital, que lhe negara permissão para comparecer ao sepultamente de sua mãe há alguns anos atrás, nem se dignou a responder aos pedidos pêlo comparecimento do prisioneiro às exéquias de seu velho genitor.
Nenhum espião, em toda a história americana, mesmo aqueles que espionaram a favor de governos inimigos, ficou tanto tempo preso como Pollard, que revelou informações a um país aliado, que, de acordo com o Memorando entre os dois governos, Israel tinha direito de receber diretamente do governo americano, nenhum dão-no advindo assim das revelações de Jonathan. É profundamente lamentável a crueldade do governo de Washington, sua continuada insensibilidade, sua falta de sentimentos humanitários para com um homem extremamente doente, que repetidamente se declarou arrependido pêlos atos cometidos, e que foi trazido pêlo governo de seu país ao desrespeitar o compromisso processual de pena menos severa em troca de sua confissão.

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