Os cafés de Viena


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Quando a gente lê os livros de Elias Canetti, surgem os cafés de Viena, locais preferidos dos artistas, escritores e políticos de esquerda, geralmente comunistas. No princípio do século passado, Viena era a capital do Império Austro-Húngaro, com uma vida cultural intensa, em alguns casos superior à de Paris e Berlim. A cidade era animada por um time de intelectuais e artistas, em sua maioria, judeus. Os cafés reuniam jornalistas, poetas, romancistas, pintores e arquitetos famosos, muitas vezes acompanhados de mulheres, bonitas ou inteligentes (às vezes, bonitas e inteligentes). A esse público juntavam-se também médicos e psicanalistas, políticos social-democratas e revolucionários bolcheviques, mas também grupos de antissemitas, futuros nazistas. Por exemplo, o Café Central, situado no rés-do-chão do palácio Ferstel, na Herrengasse, fundado em 1876, encerrado em 1943 e reaberto, novamente, em 1982. Eis aqui os nomes de alguns dos frequentadores mais famosos do Café Central, da sua época dourada, anos 1900, até o advento do nazismo:
Viktor Adler (1852-1918), cofundador do partido social-democrata austríaco. Social-chauvinista durante a I Guerra Mundial, não se entendeu bem com Trotsky, que conhecera e ajudara em 1907. Era pai do Friedrich Adler, que divergiu politicamente dele. Friedrich Adler (1879-1960), político social-democrata e revolucionário austríaco, filho de Viktor Adler. Foi opositor da política de guerra e, em 1916, matou o primeiro ministro da monarquia Austro-Húngara, conde Karl von Stürgkh. Mas cumpriu apenas um ano de prisão, graças ao término da guerra. Otto Bauer (1881-1938), político social-democrata, uma das figuras de proa do marxismo austríaco. Depois de participar em governos dos socialistas cristãos, Bauer chefiou a resistência ao fascismo de Dollfuss e partiu para o exílio em Paris,em 1934, ali morrendo meses depois do Anschluss.
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Lev Davidovitch Bronstein, o Trotsky, viveu em Viena de 1907 até 1917. Era cliente fixo do Café Central, onde habitualmente jogava xadrez. Discutia ali política com os socialistas austríacos, mas viria a ter má opinião deles, por não serem revolucionários. Em outubro de 1917, o presidente do governo austríaco, conde Heinrich Clam-Martinic, anunciou aos seus pares a eclosão da revolução bolchevique na Rússia, acrescentando que “o seu instigador foi, ao que parece, o senhor Bronstein do Café Central”. Alfred Adler (1870-1937), médico, psiquiatra, psicanalista. Rompeu em 1911 com Freud, com quem em 1902 havia fundado a Sociedade Psicanalítica de Viena. Alfred Adler fumava o seu charuto no Central, mas Freud preferia o Café Landtmann.
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Sigmund Freud frequentava às vezes o Café Central. Poderíamos imaginá-lo sentado a uma mesa de canto com a sua discípula, amiga e admiradora Lou Andreas-Salomé. Theodor Herzl (1860-1904), natural de Budapest, viveu em Viena. Foi o fundador do moderno sionismo político. Foi sucedido na liderança do movimento o húngaro Max Nordau. Peter Altenberg (1859-1919), boêmio e escritor judeu, está imortalizado em uma estátua de papier-mâché no próprio Café Central, sentado a uma mesinha, perto da porta de entrada. Figura não convencional e extravagante, usava sandálias, vivia em hotéis, era senhor de uma gigantesca coleção de postais ilustrados (mais de 10 mil) e era tido por pedófilo. Recebia o seu correio pessoal no Café Central, mas também frequentava o Café Museum e o Café Landtmann.

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