Entrevista en "Der Spiegel" con Avigdor Lieberman


Numa entrevista concedida ontem -06.04.10- ao jornal alemão “Der Spiegel”, o Ministro de Assuntos Exteriores israeli, Avigdor Lieberman, explica por que não se vam dar negociações sobre Jerusalém, quais são os seus pontos de vista sobre o Meio Leste, e a questão de Iran.
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SPIEGEL: Sr. Ministro, a mesma semana em que os palestinianos por fim accediam a retomar as negociações de paz, o seu Governo anunciava o plano para construir 1.600 novos apartamentos num assentamento judeu em Jerusalém Leste. Vocés têm provocado não apenas aos palestinianos, senão também ao seu principal aliado. Por que?

LIEBERMAN: Nós não provocámos a ninguém. Tenho escuitado todas as condeias a Israel referidas à chamada ‘Jerusalém Leste’. Durante a mesma semana 60 pessoas foram assassinadas no Pakistão em ataques terroristas. Em cada país ao nosso arredor existe derramamento de sangue e tensões. Mas todos prefirem criticar a Israel. Aínda estou agardando o dia em que o Bundestag alemão debata sobre a violação dos direitos humanos na Arábia Saudi.

SPIEGEL: Mas estamos falando com o Ministro de Exteriores de Israel, não com o de Arábia Saudi.

LIEBERMAN: Botar toda a culpa a Israel é uma hipocresia. Somos a única democracia no Meio Leste. O conflito palestiniano-israeli representa ao sumo o 3% de todos os conflitos na região. Membros do Congresso e do Senado dos EEUU têm-nos dito que nas sus visitas ao países do Golfo, Egito, Arábia Saudi ou Jorânia, os seus interlocutores árabes apenas fazem menção do “problema palestiniano”. E quando a fazem, é como simples retórica. O 95% do tempo empregam-no em falar sobre a ameaça iraniana.

SPIEGEL: Mas neste momento todo o mundo fala de Israel. Os EEUU culpam ao seu Governo por socavar o processo de paz e a cancelação da visita do seu enviado especial George Mitchell.

LIEBERMAN: Inclusso entre os melhores amigos pode haver lugar para erros e malentendidos. Nós jamais prometéramos deter a edificação em Jerusalém. Mas o anúncio durante a visita do Vicepresidente dos EEUU Joe Biden foi um erro –um erro burocrático do comitê de construcção responsável.
SPIEGEL: Daquela apenas critica você o momento, mas não propriamente o plano de expansão dos assentamentos existentes?

LIEBERMAN: A ver se nos entendemos: não se trata de assentamentos. O 65% da população judia de Jerusalém habita em novos vizindários que começámos a edificar tras a Guerra dos Seis Dias de 1967.

SPIEGEL: Os próprios norteamericanos consideram-nos assentamentos. Estám para além das fronteiras do 67, e esse é o problema.

LIEBERMAN: Estám para além das linhas do 67, mas não se trata de pequenas aldeias, senão de vizindários municipais com dúzias de miles de residentes.

SPIEGEL: Daquela o seu problema aínda é maior!

LIEBERMAN: Não há nenhum problema, são parte integrante da nossa capital.Não estamos dispostos a negociar sobre Jerusalém.

SPIEGEL: Duma banda criticam aos palestinianos por plantejar precondições, mas doutra banda vocês próprios negam-se a falar dum tema da controvérsia capital de Jerusalém.

LIEBERMAN: O Primeiro Ministro Binyiamin Netanyahu ofereceu uma conferência na Universidade de Bar-Ilan, onde reconhecia por vez primeira a solução dos dois Estados. Isso foi uma decisão dificil para nós; não esqueça que este é um governo nacionalista. Em segundo lugar, diminuímos o número de controlos nas estradas e atenuámos o acceso e movimento dos palestinianos. Através desses passos, estimulamos um crescimento económico nas vilas palestinianas do 8%. Em terceiro lugar, acometímos uma moratória nos assentamentos…SPIEGEL: …que não estám cumprindo: recentemente o Ministro de Defesa, Ehud Barak, outorgou permiso para 112 novos apartamentos no assentamento do West Bank de Beitar Illit.

LIEBERMAN: Em apenas um ano figemos muitas concesões sem contrapartida, mas apesar disso todo o mundo diz: “Sim, está muito bem, mas devedes ceder mais”.

SPIEGEL: Os EEUU exigem agora mais gestos de Israel, tras a crise dos assentamentos em Jerusalém. Estám dispostos a ceder?

LIEBERMAN: No último ano temos feito muitos gestos face os palestinianos. Agardamos que os EEUU pressionem aos palestinianos para que detenham as suas iniciativas ánti-israelis na areia internacional. Os palestinianos têm que retirar as suas demandas contra os oficiais israelis, deter o boicote dos produtos israelis, e todo tipo de incitação. Que incentivos nos oferecem para que accedamos a maiores compromisos?

SPIEGEL: A perspectiva de poder asinar um tratado de paz com os palestinianos não significa nada?

LIEBERMAN: Em primeiro lugar queremos seguridade. A comunidade internacional está cometendo um erro estratégico. Não se pode impôr a paz. Primeiro cumpre proporcionar seguridade e prosperidade, e depois será o momento de abordar uma solução global.

SPIEGEL: Portanto, desde o seu ponto de vista, as negociações com o Presidente palestiniano Mahmoud Abbas são inúteis?

LIEBERMAN: Não. Temos que manter vivo o processo político. As conversas são melhor que nada. O problema é que não sabemos a quem representa Abbas. O seu partido, Fatah, perdeu as eleições de 2006. Em 2007, Hamas tomou o poder pela força na Faixa de Gaza.

SPIEGEL: Dezenove anos depois do processo de paz iniciado em Madrid através de conversas indirectas, estamos de novo com “conversas de acercamento”. O enviado especial dos EEUU Mitchell quere rematar com os cinco kilómetros de separação entre Jerusalém e Ramala. Por que tem que ser tão complicado acceder a isso?

LIEBERMAN: Nós temos sido partidários das conversas directas desde o começo, sejam em Jerusalém ou em Ramala. São os palestinianos os que ponhem objecções. E sintem-se respaldados porque Occidente saca constantemente do tema dos assentamentos.

SPIEGEL: Acredita acaso que os EEUU são uns ingénuos?

LIEBERMAN: Ignoro se são ingénuos. Eu acredito nos factos, e estes são: a pesar dos assentamentos, asinámos dois acordos de paz –um com Egito e outro com Jordânia. E, a pesar de que tanto Ehud Barak como Ehud Olmert, estiveram prestos a evacuar a maioria dos assentamentos e retirar-se às fronteiras do 67, os palestinianos negaram-se a asinar. Nos acordos de Oslo entregámos mais da metade do West Bank…

SPIEGEL: …Não foram vocês, senão o Governo de esquerdas do daquela Primeiro Ministro Yitzhak Rabin.

LIEBERMAN: Certo, eu estava em contra e lamento dizer que eu tinha razão. Drante 16 anos figems concessões, mas os paestinianos só as têm rechaçado. E isto a pesar do facto de que do lado israeli contávamos com bons tipos: Rabin, Peres, Barak, Olmert, Sharon. Não tipos duros coma mim…
SPIEGEL: Sharon, um bom tipo?

LIEBERMAN: Evacuou os assentamentos na Faixa de Gaza.

SPIEGEL: A fim de contas para que querem os assentamentos?

LIEBERMAN: Antetudo, Judea e Samaria são o berço da nossa nação desde os tempos da Bíblia. Para alé do qual, os assentamentos são fundamentais para a nossa seguridade.

SPIEGEL: Os assentamentos? Não ponhem precisamente em perigo a sua seguridade?LIEBERMAN: Não, os assentamentos arredor de Jerusalém, por exemplo, servem de barreira para nós.

SPIEGEL: Mas vocês já têm construído um muro que separa Jerusalém do West Bank.

LIEBERMAN: Os assentamentos são como um segundo cinturão de seguridade, necessitamo-los. Mas estamos dispostos a negociar sobre parte de eles.

SPIEGEL: Você próprio vive num assentamento: Nokdim, ao sul de Belém.

LIEBERMAN: E sempre digo que estou disposto a renunciar a ele. Mas tenho que estar seguro de que existe um sócio no outro lado disposto a ceder. Pelo que nos dita a experiência nem existe esse sócio nem existem ressultados.

SPIEGEL: Não será, singelamente, que Israel não tem oferecido o suficiente?

LIEBERMAN: Existe um equívoco de partida sobre a natureza deste conflito. Tudo começou como um conflito nacional entre dois povos desputando-se um pedaço de terra. Mas tem derivado num conflito religioso. É uma guerra de civilizações que ão se pode solventar com um simples compromiso territorial.

SPIEGEL: Os motivos de Israel também são parcialmente religioso; recentemente o seu Governo declarou a tumba do patriarca bíblico Abraham em Hebron como “patrimônio sionista”. Sem embargo, também é um lugar sagrado para os muçulmães.

LIEBERMAN: Hebron foi a primeira cidade judia, o Rei David dou começo à nossa nação desde ali. Nós não temos alterado o status quo da tumba de Abraham, os muçulmães têm livre acceso à mesquita. Este tipo de tolerância não se dá no lado muçulmão. A semana passada Hamas fez um chamamento a um “dia de fúria”, porque reabrimos a Sinagoga de Hurva na Cidade Velha de Jerusalém, que fora destruída em 1948.

SPIEGEL: Daquela que solução propõe você?

LIEBERMAN: Neste momento não acho uma solução. Devemos concentrar-nos em controlar o conflito. Vê você uma solução em Afeganistão? Em Irak?
SPIEGEL: Em Afganistão menos, em Irak mais.


LIEBERMAN: Se Occidente fracassa em tantas partes do mundo, não é justo agardar que o conflito da nossa esquina, entre todas os demais, seja solventável. Não é possível deter um tsunámi islamista criando uma pequena ilha no meio do ocêano. O problema principal é a agressiva influência de Iran.

SPIEGEL: O Conselho de Seguridade da ONU está actualmente debatendo novas medidas de castigo contra Iran. China e Rússia já têm anunciado que se oponhem a “sanções drásticas”. Sem eles, é aínda possível evitar que Iran construa a bomba nuclear?

LIEBERMAN: O problema não é apenas Rússia ou China, senão também Índia, Turquia e outros. Mas seria suficiente se houvessem sanções drásticas de Occidente, de países como a União Europeia e os EEUU, Japão, Austrália e Canadá. Isso poderia bastar para sufocar o programa nuclear iraniano.

SPIEGEL: Daquela não haverá um ataque militar?

LIEBERMAN: Não acredito que seja Israel quem tenha que tomar a responsabilidade nesse assunto. Mas não descartamos nenhuma opção.

SPIEGEL: Qual é o maior perigo para Israel: uma Iran nuclearizada ou o apoio de Teheran a Hamas e os libaneses de Hezbolá?

LIEBERMAN: O maior perigo é a indecisão da comunidade internacional. Iran é uma ameaça para todo o mundo. Não é uma coincidência que não celebrem o “Dia da Independência”, senão o “Dia da Revolução Islâmica”. Os revolucionários sempre tratam de exportar a sua revolução, isso é o que se passou com os bolcheviques e também com o Ché Guevara. Portanto, nós contemplamos as actividades iranianas a nível mundial: em África, em Sulamérica e, por suposto, no Meio Leste: com Hamas, Hezbolá ou Muqtada al-Sadr em Irak. Todos eles são aliados de Iran.

SPIEGEL: E esse é o motivo pelo que o traficante de armas Mahmoud al-Mabhouh teve que ser assassinado pelo Mossad em Dubai?

LIEBERMAN: Acredito que você tem visto demassiados filmes de James Bond. Eu também vim ovídeo da polícia de Dubai na TV, mas não existe nem uma só prova.

SPIEGEL: Todas as evidências apontam a Israel. Os agentes utilizaram identidades de judeus emigrados a Israel desde a Grande Bretanha e Austrália.

LIEBERMAN: Estamos cooperando com a Grande Bretanha e Austrália nas investigações. Têm enviado inspectores da polícia a Israel.

SPIEGEL: Então afirma que não foi coisa do Mossad?

LIEBERMAN: Nós combatimos o terrorismo cada dia. Tratamos, a pesar de tudo, de seguir sendo uma democracia com regras transparentes. Também agardo que a comunidade internacional seja mais comprensiva com os nossos problemas.

SPIEGEL: Existe enfado no serviço exterior de inteligência alemão, o BND, devido a que Israel assassinou a um tipo de Hamas mentres o BND mediava a solicitude de Israel com Hamas sobre a libertação do soldado seqüestrado Gilad Shalit.

LIEBERMAN: Apreçamos todos os seus esforços no caso de Gilad Shalit.

SPIEGEL: Por que você sempre é percebido como o tipo máu?

LIEBERMAN: A gente pode escolher entre as doces mentiras ou a amarga verdade. Eu digo a amarga verdade, mas muita gente não a quer escuitar.

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